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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Foi o Evangelho Sempre Conhecido? - Parte 2

 
II. Foi o Evangelho Sempre Conhecido, ou é uma Nova Doutrina?

Objeção 2. O apóstolo Paulo diz que o evangelho era o mistério que foi mantido em segredo desde que o mundo começou, e que em outras gerações não  foi manifestado aos filhos dos homens. [Rm 16:25; Ef 3:5]
Porque esta objeção está errada - Resposta: Essa objeção contém uma divisão incorreta, na medida em que separa coisas que não deveriam ser separadas. Porque o Apóstolo acrescenta, em conexão com  os versículos acima, uma referência conjunta ao tempo presente - “como agora”; que não deveria  ser omitida, pois mostra que em épocas anteriores o evangelho também era conhecido, embora menos claramente, e por menos pessoas, do que é hoje. A objeção também  é fraca, ao afirmar de maneira estrita, o que fora declarada a respeito de certo aspecto somente: por que não é uma  conclusão necessária, que algo fosse totalmente desconhecido em um tempo passado, apenas por agora ser mais  claramente percebido, e por muito mais pessoas. O evangelho era conhecido pelos antigos pais no Velho Testamento, embora não
tão claramente quanto para nós. Daí a importância da distinção entre as palavras epaggelia e euanggelia como acima foi dito.

Objeção 3. A lei veio por Moisés, a graça e a verdade por Jesus Cristo. Portanto, o evangelho não fora
sempre conhecido.
 
Porque esta objeção está errada - Resposta: A graça e a verdade de fato vieram através de Cristo, a saber, no que diz respeito ao cumprimento dos tipos e à  plena exposição e à aplicação abundante das coisas que estavam anteriormente apenas prometidas  no Antigo Testamento. Mas não decorre disto que os antigos
pais e
stivessem totalmente destituídos desta graça: para com eles também a mesma graça foi aplicada por, e por conta de Cristo, que seria posteriormente manifesto na carne, embora fora dada
em menor medida a eles do que tem sido dada a nós.
Pois, qualquer que seja a graça e o conhecimento verdadeiro de Deus que já chegou aos homens, tal coisa veio através de Cristo, como se diz,"O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer."; "Ninguém vem ao Pai, senão por mim."; "Sem mim nada podeis fazer." [João 1:18; 14:6; 15:5].


Objeção 3.a.  Mas diz-se, a lei foi por Moisés, portanto, o Evangelho não foi dado por ele. 
Porque esta objeção está errada – RespostaIsso é assim declarado, porque era a parte principal do ofício de Moisés publicar a lei; mas ele também ensinou o evangelho, porque ele escreveu e falou de Cristo, embora mais obscuramente, como foi  mostrado aqui.  Mas era o ofício especial de Cristo publicar o evangelho, embora ao mesmo tempo tenha ensinado a Lei, mas não principalmente, como fizera Moisés: porque Cristo tirou da lei moral, as corrupções e alterações feitas pelos falsos mestres - Ele cumpriu a lei
cerimonial, e a abrogou, juntamente com o poder judicial da lei.

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O texto acima provém da exposição de Zacarias Ursinus sobre a questão 19 no seu "Commentary on the Heidelberg Catechism," pp. 101-106 ( G.W. Williard, Columbus OH, 1852; reprinted by P & R).
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Em que o Evangelho difere da Lei?


III. Em que o Evangelho difere da Lei?


O evangelho e a lei concordam no seguinte: ambos são de Deus, e que há algo que é revelado em cada um a respeito da natureza, vontade, e as obras de Deus. Há, no entanto, uma diferença muito grande entre eles:

1. Nas revelações que eles contêm; ou, em respeito a maneira pela qual a revelação peculiar a cada um é feita conhecida. A lei estava gravada no coração do homem em sua criação, e por isso é conhecido de todos, naturalmente, embora nenhuma outra revelação fora dada. "Os gentios têm a obra da lei escrita em  seus corações." [Rm 2:15]

O Evangelho não é conhecido naturalmente, mas é divinamente revelado somente à Igreja por Cristo, o Mediador. Pois nenhuma criatura poderia ter visto ou esperado por esta  mitigação da lei concernente a propiciação pelos nossos pecados através de outro, se o Filho de Deus não houvesse revelado isso. "Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar." "Não foi carne e sangue revelaram que a ti."; "O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer" [Mateus 11:27; 16:17].


2. No tipo de doutrina, ou assunto peculiar a cada um. A lei nos ensina o que deveríamos ser, e o que Deus exige de nós, mas isso não nos dá a capacidade de realizar estas coisas, nem aponta o caminho pelo qual podemos evitar o que é proibido. Mas o Evangelho nos ensina de que maneira podemos ser feitos tais quais a lei exige: pois o evangelho oferece para nós a promessa da graça, por ter a justiça de Cristo imputada a nós através da fé, e isto de tal forma que é como se esta justiça fosse realmente a nossa, ensinando-nos que estamos justos diante de Deus, através da imputação da justiça de Cristo. A lei diz: "Paga o que me deves."; "Faça isso, e viverás." [Mateus 18: 28; Lucas 10:28]. 
O evangelho diz: "Apenas creia." [Marcos 5:36.]


3. Quanto as promeças. A lei promete vida para aqueles que são justos em si mesmos, ou sob a condição de
retidão e perfeita obediência.
"Aquele que os pratica, viverá por eles."; "Se queres entrar na vida, observa os mandamentos". [Levítico 18:5;Mateus 19:17]. O evangelho, por outro lado, as promete vida para aqueles que são justificados pela fé em Cristo, ou sob a condiçao da  justiça de Cristo, aplicados a nós pela fé. A lei e evangelho não são, entretanto, opostos  um ao outro neste aspecto: pois, embora a lei nos obrigue a guardar os mandamentos, se queremos entrar na vida, no entanto, ela não exclui-nos da recompensa da vida, se outro executar essas coisas em nosso lugar. A lei realmente apresenta uma forma de satisfação das exigências Divinas através de nós mesmos, mas a lei não impede a outra (a saber, pela fé somente, mediante a imputação da justiça de Cristo), como já foi demonstrado.


4. Eles diferem em seus efeitos. A lei, sem o evangelho, é a letra que mata, e é o ministério da morte "Porque pela lei vem o conhecimento do pecado"; "A  lei opera a ira, e a letra mata". [Rm 3:20; 2 Cor 3:6].
The  outward preaching, and simple knowledge of what ought to be done, is known through the letter: for it declares our duty, and that righteousness which God requires; and, whilst it neither gives us the ability to perform it, nor points out the way through which it may be attained, it finds fault with, and condemns our righteousness. But the gospel is the ministration of life, and of the Spirit, that is,  it has the operations of the Spirit united with it, and quickens those that are dead in sin, because it is through the gospel that the  Holy Spirit works faith and life in the elect. "The gospel is the power of God unto salvation," etc. (Rom. 1: 16.)

Objeção: There is no precept, or commandment belonging to the gospel, but to the law. The preaching of repentance is a precept. Therefore the preaching of repentance does not belong to the gospel. but to the  law. Answer: We deny the major, if it is taken generally; for this precept is peculiar to the gospel, which commands us to believe, to embrace the benefits of Christ, and to commence new obedience, or that righteousness which the law requires. If it be objected that the law also commands us to believe in God, we reply that it does this
only in general, by requiring us to give credit to all the divine  promises, precepts and denunciations, and that with a threatening of punishment, unless we do it. But the gospel commands us expressly and  particularly to embrace, by faith, the promise of grace; and also exhorts us by the Holy Spirit, and by the Word, to walk worthy of our heavenly calling. This however it does only in general, not  specifying any duty in particular, saying thou shalt do this, or that, but it leaves this to the law; as, on the contrary, it does not  say in general, believe all the promises of God, leaving this to the law; but it says in particular, Believe this promise; fly to Christ, and thy sins shall be forgiven thee.


O texto acima provém da exposição de Zacarias Ursinus sobre a questão 19 no seu "Commentary on the Heidelberg Catechism," pp. 101-106 ( G.W. Williard, Columbus OH, 1852; reprinted by P & R).
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Quais são os efeitos próprios do Evangelho?

IV. What  Are The Proper Effects of the Gospel?


The proper
effects of the gospel are:


1. Faith;
because "faith cometh by hearing, and hearing by the word of
God." "The gospel is the ministration of the Spirit."
"The power of God unto salvation." (Rom. 10: 17. 2 Cor. 3:
8. Rom. 1: 16.)


2. Through
faith, our entire conversion to God, justification, regeneration and
salvation; for through faith we receive Christ, with all his
benefits.


V. From
What Does The Truth of the Gospel Appear?


The truth
of the gospel appears:


1. From
the testimony of the Holy Ghost.


2. From
the prophecies which were uttered by the prophets.


3. From
the fulfillment of these prophecies, which took place under the New
Testament dispensation.


4. From
the miracles by which the doctrine of the gospel was confirmed.


  1. By
    the testimony of the gospel itself; because it alone shows the way
    of escape from sin, and ministers solid comfort to the wounded
    conscience.
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Foi o Evangelho Sempre Conhecido? - Parte 1

 
II. Foi o Evangelho Sempre Conhecido, ou é uma Nova Doutrina?

O Evangelho, por vezes, se refere à doutrina sobre a promessa da Graça  e do perdão dos pecados a ser concedido livremente, em virtude do sacrifício do Messias, que ainda não havia vindo em  carne; e, em seguida, mais uma vez, se refere à doutrina do Messias que já veio. No último sentido, não tem sido  sempre conhecida, mas começou a ser assim apresentada com o Novo Testamento. No primeiro sentido, no entanto, sempre foi conhecida na Igreja; pois logo após a Queda, o evangelho foi  revelado no Paraíso aos nossos primeiros pais - depois foi publicada pelos Patriarcas e Profetas, e afinal foi totalmente  cumprida, e revelada pelo próprio Cristo. As provas disso são as seguintes:

1. O  testemunho dos Apóstolos. Pedro diz: "A este deu  testemunho todos os profetas, que através do seu nome, todo aquele que crê n'Ele recebe remissão de pecados";  "Da qual salvação, os profetas inquiriram e
trataram diligentemente". [Atos 10: 43. 1Pe 1:10]
. Paulo diz do evangelho "que ele havia prometido pelos seus profetas." [Romanos 1:2]. O próprio Cristo diz: "Se em Moisés  crêsseis, creríeis em mim; porque ele escreveu de mim. [João 5: 46].

2. As  promessas e profecias que se relacionam com o Messias, estabelecem  esta mesma coisa.

Deve, portanto, ser cuidadosamente observado, pois Deus nos fará  sabermos que houve, e há desde o início até o fim do mundo, apenas uma doutrina, e caminho de salvação  através de Cristo, de acordo com o que é dito, "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre."; "Eu  sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por mim"; "Moisés escreveu de mim." [Hb 13:8; João 14:6; 5: 46].


Se alguém perguntar, Como Moisés escreveu sobre Cristo? 

Nós  respondemos:
1. Ao enumerar as promessas que tinham relação com o Messias.
"Em tua semente todas as nações da terra serão abençoadas."; "Deus levantará um profeta...";" Uma estrela subirá de Jaco";"O cetro não arredará de Judá até que venha Siló." [Gên. 12:3; Dt 18: 15; Nm 24: 17; Gên.
49:10].
 
2. Ele restringiu essas promessas a uma determinada família de que o Messias havia de nascer: e para a qual a promessa foi posteriormente com mais frequência referida e falada.

3. Todo o  sacerdócio Levítico e o culto cerimonial, como sacrifícios, oblações, o altar, o templo, e outras coisas que Moisés descreveu, todas apontavam para a futura vinda de Cristo. Os reis e o reino da nação
Judaica foram tipos de Cristo, e do Seu reino. Assim Moisés escreveu muitas coisas sobre Cristo.

Objeção
1
. Paulo declara o Evangelho foi prometido através dos  profetas, e Pedro diz que os profetas profetizaram da graça que deveria vir até nós. Portanto, o evangelho não  poderia ter sempre existido, mas era algo futuro.
Porque esta objeção está errada - Resposta: Nós concordamos que o evangelho não tem simplesmente sempre existido, se entendemos por “evangelho” a doutrina da promessa da graça cumprida através da manifestação de Cristo na carne, e no que diz respeito a clareza e a evidência  dessa doutrina; pois, nos tempos antigos o evangelho não havia se cumprido, mas era somente prometido pelos profetas:

1. Como  relativo ao cumprimento daquelas coisas que, no Antigo Testamento,  foram preditos sobre o Messias.
2. No que diz respeito ao conhecimento mais claro da promessa da graça.
3. Em  relação à manifestação mais abundante dos dons do Espírito Santo.


Ou seja, o evangelho, então, nos tempos antigos, não era o  anúncio de que Cristo já veio, morreu, ressuscitou e está sentado à direita do Pai - como é agora;  mas o evangelho era uma pregação de Cristo, que ainda iria em algum momento futuro chegar, e realizar todas essas coisas. 
No entanto, havia um evangelho, isto é, havia um alegre anúncio dos benefícios do Messias que estava para vir,  suficiente para a salvação dos antepassados, como é  dito, "Abraão viu o meu dia, e regozijou-se."; "A este deu testemunho todos os profetas.";"Cristo é o cumprimento da lei". [João 8: 56; Atos 10: 43; Romanos 10: 4]

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O texto acima provém da exposição de Zacarias Ursinus sobre a questão 19 no seu "Commentary on the Heidelberg Catechism," pp. 101-106 ( G.W. Williard, Columbus OH, 1852; reprinted by P & R).
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Como Irei a Deus? - Parte 6

Ah! Isso é graça. "Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou" (1 João 4:10)! Ele nos amou, mesmo quando estávamos mortos em nossos delitos. Ele nos amou, não porque fôssemos bondosos, mas por ser Ele "rico em misericórdia"; não porque fôssemos dignos de Seu favor, mas porque Ele se deleita em mostrar-se longânimo para conosco. Ele nos acolheu movido pela Sua própria graça, e não porque fôssemos dignos de ser amados. "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28). Sim, Cristo convida os cansados! Esse cansaço espiritual é que capacita o pecador a vir a Cristo, o que também permite que Cristo socorra o pecador. Onde houver esse cansaço, haverá também o descanso! Esses dois aspectos são encontrados lado a lado. Talvez você diga: "Este lugar de descanso não é para mim". O quê? você quer dizer que esse descanso não se destina a você? Ora, esse descanso não se destina aos cansados? Talvez você insista: "Mas, eu não posso fazer uso dele". O quê? Você não pode fazer uso do descanso? Você quer dizer algo como: "Estou tão cansado que nem posso sentar-me?" Se você tivesse dito: Estou tão cansado que nem posso ficar de pé, nem andar e nem subir em lugares elevados, todos lhe entenderiam. Mas, dizer alguém: "Estou tão cansado que nem posso sentar-me" exprime uma grande tolice, ou algo pior, pois estaria fazendo do ato de sentar-se uma ação meritória, dando a entender que sentar-se é fazer algo importante, que requer um longo e prodigioso esforço.

Ouçamos, pois, as graciosas palavras do Senhor: "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede. Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" (João 4:10). "Tu lhe pedirias, e ele te daria água viva!" Isso é tudo. Quão real, quão verdadeiro, quão gratuito; e ainda, quão simples! Ou então, escutemos a voz do servo, na pessoa de Lutero: "Oh, meu querido irmão, aprenda a conhecer a Cristo crucificado. Aprenda a entoar um novo cântico; a desistir de obras anteriores, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha retidão, e eu sou o Teu pecado. Tomaste sobre Ti o que é meu, e me deste o que é Teu. O que eu era, nisso Te tornaste, a fim de que eu me tornasse naquilo que eu não era. Cristo habita somente com os pecadores confessos. Medita com freqüência no amor de Cristo e provarás quão doce Ele é". Sim, perdão, paz, vida - todas essas coisas são dádivas. Os dons divinos, trazidos do céu pelo Filho de Deus são oferecidos pessoalmente a cada pecador necessitado pelo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esses dons não se destinam a ser comprados, mas recebidos; da mesma forma que os homens recebem a luz do sol, completa, garantida e gratuitamente. Esses dons não se destinam a ser merecidos por meio de esforços ou sofrimentos pessoais, por meio de orações ou lágrimas; antes, devem ser aceitos imediatamente, como aquilo que foi adquirido pelos labores e pelos sofrimentos do nosso grande Substituto. Não devemos ficar esperando por esses dons, mas eles devem ser aceitos prontamente, sem qualquer hesitação ou falta de confiança, da mesma forma que os homens aceitam os presentes de amor de algum amigo generoso. E também não devem ser reivindicados com base na aptidão ou na bondade, mas antes, por causa da necessidade e indignidade da pobreza e do vazio espirituais.

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Como Irei a Deus? - Parte 5

No solucionamento da grande questão entre Deus e o pecador, não poderia haver nem barganha e nem preço de qualquer espécie. A base do acordo foi lançada faz quase vinte séculos; e a poderosa transação realizada na cruz do Calvário foi tudo quanto se fez necessário para que o preço fosse pago. "Está consumado" é a mensagem de Deus aos filhos dos homens que perguntam: "Que devo fazer para ser salvo?" Essa transação concluída sobrepuja todos os esforços dos homens para se justificarem, ou para ajudarem a Deus a justificá-los. Vemos Cristo crucificado, bem como vemos Deus em Cristo reconciliando o mundo conSigo mesmo, não imputando aos homens as suas transgressões; e esse fato resulta daquilo que foi realizado na cruz, onde a transferência da culpa do pecador para o divino Filho de Deus foi efetuada de uma vez por todas. Ora, o Evangelho é justamente o anúncio das "boas-novas" dessa grande transação. Quem quer que dê crédito a esse anúncio, toma-se participante de todos os benefícios garantidos por essa transação.

"Mas, não deveria eu sentir-me endividado diante da realização do Espírito Santo em minha alma?"

"Sem dúvida; pois qual esperança poderia haver para você sem a operação do todo-poderoso Espírito, que vivifica os mortos?"

"Nesse caso, não deveria eu esperar pelos impulsos do Espírito? E uma vez recebidos esses impulsos, não deveria eu apresentar os sentimentos despertados por Ele como razões de minha justificação?"

"Não de modo nenhum. Ninguém é justificado pelas realizações do Espírito, mas somente pela realização de Cristo. E as operações do Espírito também não servem de base para a fé, e nem de motivos para alguém esperar o perdão da parte do Juiz de todos. O Espírito Santo opera em nós, não a fim de preparar-nos para sermos justificados, e nem para tomar-nos aptos para recebermos o favor divino, e, sim, para conduzir à cruz, tal e qual nós somos. Pois a cruz é o único lugar onde Deus trata misericordiosamente com os transgressores."

É na cruz que encontramos paz com Deus e recebemos o Seu favor. Ali achamos não somente o sangue que nos lava, mas também a retidão que nos reveste e embeleza, de tal maneira que dali por diante somos tratados por Deus como se nunca tivesse havido a nossa injustiça, e como se a retidão de Seu Filho fosse nossa.

A isso Paulo chama de retidão "imputada" (ver Romanos 4:6.8,11,22,24), a saber, Deus lança a retidão de Cristo em nossa conta, como se tivéssemos direito às bênçãos que tal retidão pudesse obter para nós. Retidão obtida por nós mesmos ou lançada em nossa conta por outro ser humano chamamos retidão infundida, concedida ou inerente, mas retidão alheia, a nós creditada por Deus, como se nossa, chamamos retidão imputada. Paulo alude a isso, quando diz: "...revesti-vos do Senhor Jesus Cristo..." (Romanos 13:14 e Gálatas 3:27). Assim, Cristo nos representa; e Deus trata conosco como quem é representado por Cristo. E então, necessariamente haverá a retidão interna como conseqüência natural. Mas, não devemos esperar obtê-la, antes de irmos a Deus buscar a retidão de Seu Filho.

A retidão imputada deve vir primeiro. Ninguém tem a retidão no íntimo, enquanto não tiver recebido a retidão que vem de fora. Assim, fazer alguém de sua própria retidão o preço oferecido a Deus em troca da retidão que há em Cristo, é desonrar a Deus e negar o valor de Sua cruz. A obra do Espírito não consiste em tomar-nos santos, a fim de podermos ser perdoados, mas em mostrar-nos a cruz, onde os transgressores acham perdão. Tendo achado o perdão ao pé da cruz, iniciamos aquela nova vida de santidade à qual fomos chamados.

O que Deus oferece ao pecador é o perdão imediato: "...não por obras de justiça praticadas por nós..!"(Tito 3:5), e, sim, pela grande obra de retidão realizada em nosso lugar por nosso Substituto. Nossa qualificação para a obtenção dessa retidão é o fato que somos injustos, tal como a qualificação para que um enfermo receba cuidados médicos é que ele esteja doente.

Sobre alguma bondade anterior, como base para o recebimento do perdão, o Evangelho faz total silêncio. Os apóstolos jamais aludiram a sentimentos religiosos preliminares, como algo necessário para que recebamos a graça de Deus. Temores, perturbações, auto-indagações, amargos clamores implorando misericórdia, pressentimentos de juízo e resoluções de mudança de vida, dentro da seqüência do tempo, podem anteceder o recebimento das boas-novas de salvação por parte do pecador, mas nenhuma dessas coisas constitui a sua preparação, e nem o qualifica. Ele é bem recebido, mesmo sem qualquer dessas coisas. Elas não lhe garantem o perdão, tornando este mais gracioso ou mais gratuito. As necessidades do pecador arrependido foram os seus argumentos: "Deus, sé propício para comigo, um pecador!" Sim, ele precisava de salvação, e dirigiu-se a Deus a fim de recebê-la, e também porque Deus deleita-se em socorrer aos pobres e necessitados. Ele precisava de perdão, foi a Deus e obteve o perdão sem qualquer mérito pessoal e sem ter de pagar coisa alguma. Quando ele nada tinha para pagar sua dívida, Deus o perdoou gratuitamente. Foi o fato que ele nada tinha para pagar que provocou o mais franco perdão.


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Como Irei a Deus? - Parte 4

Perguntava Lutero: "Como poderei ousar crer no favor de Deus, enquanto não houver em mim uma real conversão? Preciso mudar, antes que Ele possa receber-me."

Foi esclarecido a Lutero que a "conversão" ou o "arrependimento" que ele tanto desejava jamais poderia ocorrer enquanto considerasse Deus um severo Juiz, destituído de amor. O que nos conduz ao arrependimento é a "bondade de Deus" (Romanos 2:4). Se o pecador não reconhecer essa bondade, seu coração não poderá ser quebrantado. Um pecador impenitente despreza as riquezas da bondade, da longanimidade e da tolerância de Deus.

O idoso conselheiro de Lutero disse-lhe claramente que ele deveria descontinuar as penitencias e as mortificações, bem como todas as preparações da justiça-própria para tentar obter ou adquirir o favor divino

Conforme Lutero nos revela de forma tocante, essa voz pareceu descer do próprio céu: "Todo autêntico arrependimento começa com o conhecimento do amor perdoador de Deus".

Enquanto Lutero ouvia, raiou-lhe a luz do entendimento, e uma alegria até então desconhecida tomou conta dele. Nada havia entre ele e Deus! Nada havia entre ele e o perdão! Nada de bondade preliminar ou de sentimentos preparatórios! Lutero aprendeu a lição dada pelo apóstolo. "Cristo... morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6). Deus "justifica ao ímpio" (Romanos 4:5). Todo e qualquer mal existente no ímpio é incapaz de impedir essa justificação; e toda a bondade do pecador (se nele houver tal coisa) não pode ajudá-lo a obtê-la. Ele terá de ser recebido como um pecador, ou nem poderá ser recebido. O perdão oferecido reconhece somente a sua culpa; e a salvação provida na cruz de Cristo considera-o apenas um perdido.

Entretanto, o senso de culpa é por demais profundo para ser facilmente abafado. O temor voltou ao coração de Lutero, e ele foi aconselhar-se uma vez mais, exclamando: "Oh, o meu pecado, o meu pecado!" como se a mensagem de perdão, que ele recebera ainda tão recentemente, fosse boa demais para ser veraz, e como se pecados como os seus não pudessem ser fácil e simplesmente perdoados.

"você quer ser apenas um pecador aparente, e, portanto, necessitado apenas de um Salvador aparente?"

Assim indagou o venerável amigo de Lutero, adicionando então solenemente: "Reconheça que Jesus Cristo é o Salvador de grandes e autênticos pecadores, os quais nada merecem senão a mais total condenação?"

"Mas Deus não é soberano em Seu amor selecionador?" indagou Lutero. E completou: "Talvez eu não seja um dos escolhidos de Deus?"

"Olhe para as cicatrizes de Cristo", foi a resposta, "e contemple ali a mente bondosa de Deus para com os filhos dos homens. Em Cristo enxergamos Deus, ficamos sabendo Quem Ele é, e como Ele nos ama. Pois o Filho é quem revela o Pai; e o Pai enviou o Filho para que fosse o Salvador do mundo".

Certo dia, quando estava doente e acamado, disse Lutero a um amigo: "Creio no perdão dos pecados". E ajuntou: "Porém, o que isso tem a ver comigo?"

"Ah, e isso não inclui os seus próprios pecados?" indagou aquele amigo, acrescentando: "Você crê que os pecados de Davi foram perdoados? e que os pecados de Pedro foram perdoados? Por que você não pode crer que os seus próprios pecados podem ser perdoados? O perdão tanto é para você como foi para Davi ou Pedro"

Foi dessa maneira que Lutero encontrou tranqüilidade. O Evangelho, uma vez crido dessa forma, trouxe a Lutero liberdade e paz. Ele compreendeu que havia sido perdoado, porque Deus dissera que o perdão seria a possessão imediata e garantida de todos quantos dessem credito ás boas-novas da salvação.


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